terça-feira, 31 de março de 2015

A quantos passos você está da vida?





"Deus"... Como é mágico este instante em que ultrapassamos a fronteira do "eu"
 e mergulhamos no "outro".
Que sublime é o sentimento que nos inunda quando permitimos que nossa curiosidade rompa com nosso senso de familiaridade e nos prove que ganhamos sempre que assentimos, o
quanto o diferente pode ser estranhamente maravilhoso e o experimentamos.
Abrimos nossa percepção e atravessarmos a rua, o bairro, a cidade, o país, o continente...
E por que não o mundo?
Não importam quantos são os passos...
Quando ousamos trilhar esse caminho, finalmente encontramos o que realmente nos fala a alma e admitimos o quanto vínhamos ignorando a riqueza alheia e o quão pouco sabemos dela.
Quando falo  aqui de riqueza, me refiro a patrimônio imaterial; de "savoir- faire", de sentimentos que são transmitidos
entre gerações, através de gestos e valores que foram impressos pelas formas mais puras e caras, que existem neste mundo  de ensinar: o respeito, a emoção e o amor.
Por que eu tenho certeza de que nada do que se possa comprar em qualquer lugar deste mundo, será mais pleno do que o sentimento de paz e pertencimento, que uma criatura capaz de entender e respeitar esse saber, carrega em seu interior ao propagá-lo.
Eu conheço bem a emoção que me domina, quando me deparo com autenticidade de quem não sucumbe, diante da voracidade dessa máquina produtora de conceitos e padrões em série, que o mundo do consumo faz questão de alimentar.
Há de se ter muito cuidado para escapar das longas garras dessa engrenagem, que capta rapidamente a fragilidade de bases superficiais que são facilmente abaladas, justamente

por estarem baseadas em uma visão una, determinada pelo egocentrismo.
O perigo de fixar-se a um conceito fechado é ignorar todo o resto, é negar-se a oportunidade de observar, aprender e deixar a emoção barrar a massificação que tende a compelir 
e transformar você em uma mescla padronizada do entorno.
 O que muito se apresenta como real, nada tem a ver com essência humana; por que esta é a primeira que nos abandona, quando aceitamos viver a busca desenfreada da compulsão
ditada por um status que se resume a notoriedade.
Ser bem sucedido na vida, ao contrário do que muitos pensam, não está ligado a nada disso.
Os melhores momentos da vida vem das coisas simples
que alimentam os laços de nossas emoções.
 Este filme em meu entender fala exatamente disso: abrir espaço para o novo não significa
abandonar a suas bases, pelo contrário, você as solidifica por que passa a entender verdadeiramente conceitos que até então você só havia absorvido.
Sempre que me disponho a mergulhar em outra cultura que não a minha, dou sim
quantos passos me forem necessários.
Adoro atravessar a rua!
Observo, aprendo, amo...
Troco todas minhas certezas por dúvidas, reavalio, experimento, me emociono, evoluo
por que não tenho a menor dúvida, de que a fala da célebre Madame Mallory no filme
aplica-se perfeitamente a vida: 
"A cozinha não é  um casamento antigo e monótono
 a cozinha é para ser feita com uma tórrida, interminável e ardente paixão."