sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

E por que não?

  
 


Sempre fui dona de uma curiosidade investigativa, assim diria.
Sou aquele tipo de pessoa que antes de viajar para um local faz profundas incursões nos livros e na internet, pois assim consigo ter uma noção do que me interessa na região e me permito montar um planejamento da viagem.
Organizo tudo de forma independente e confesso, adoro fazê-lo.
Lógico que não monto programações cronometradas e nem sou obcecada por cumpri-las à risca, bem pelo contrário; quando as crio estabeleço cidades bases nas quais
 faço uma reserva de hotel ou pousada passível de ser modificada, mas jamais me submeto a possibilidade de ficar sem hospedagem depois de um dia de longos passeios
ou até mesmo ter dirigido por quilômetros.
Eis aqui alguém que estando a lazer não funciona sob fome, sede e cansaço, isso
por que quando viajo
 acordo cedo e aproveito todas as horas do dia que me forem
possíveis; paro  quando estou exausta e aí sim volto para o hotel absolutamente feliz, para usufruir muito daquele banho revigorante e aquela cama maravilhosa
 e no outro dia cedinho . . . rua!!!
 A exceção ocorre se eu estiver fora a mais de duas semanas, em um dia qualquer, esqueço-me
do fuso horário penduro o "Please do not disturb" na porta e durmo
até despertar por conta própria, por que chega um momento que
 o corpo suplica por  isso.
De resto, ô coisa boa que é esquecer a vida e o relógio, mergulhando mesmo em estradas e lugares desconhecidos em busca de meus interesses.
A hora fica por conta de alguns detalhes: almoçar quando bate a fome ou quando você
passa em frente daquele bistrô irresistível, mesmo que sejam 16:00
horas, está quente e você com sede e aí você vê aquele
 boulevar cheio de mesinhas e repara em uma marca de cerveja
que você nunca tomou: hora de beber, o 
o museu está fechando : a noite caiu.
Ah! Isso me leva a mais um fato, eu adoro exercitar meu egoísmo quando viajo e obedecer
 somente as minhas vontades e portanto:  amo viajar só.
Eu sei que as pessoas estranham e acho graça da expressão delas quando me
 questionam:  _ Mas você viaja só?
Vou fazer minhas a palavras, da por minha pessoa sempre tão mencionada
Martha Medeiros para responder a esta questão:
 
"[...] Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência.
Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas
 vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de negociar
 nossos desejos em troca de companhia temporária.
E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido?
[...] Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia.
Mas se está tudo bem entre "vocês", saiam por aí e descubram como é bom sentar num café num dia de sol, pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para
apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que
 desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora pra voltar, pedalar ao longo de um rio ouvindo suas músicas preferidas
 no iPod, em conexão com seus pensamentos e
sentimentos, nada mais.
Vergonha?
Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da própria pele.
Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só".

 
               Fragmento da crônica: Nós de Martha Medeiros

 
 
Foto: Ione Avelar